Não se trata de uma crise financeira, até porque os resultados de 2017 foram espetaculares. A receita cresceu 47% e o resultado apresentou um lucro líquido de mais de U$ 4.2 Bilhões, o que representou um crescimento de 20% em relação ao ano de 2016.
Mas o horizonte do Facebook não está tão claro como eles gostariam. Paira no ar uma dúvida sobre o modelo de negócios e a forma que eles lidam com as informações que são compartilhadas na rede.
Uma das métricas que o Facebook utiliza para medir o sucesso do negócio é um número de horas que as pessoas passam na rede. E, pela primeira vez na história, as pessoas passaram menos tempo utilizando o Facebook. Isso ligou o sinal amarelo na empresa e eles já anunciaram um mudança no algoritmo que controla as publicações que cada um vê, priorizando as publicações de amigos e não de marcas e empresas de mídia.
E aqui vale um esclarecimento para quem não está acostumado com a terminologia e o funcionamento do Facebook: É importante deixar claro que a gente não vê tudo o que todos os nossos amigos e as páginas que curtimos postam na rede. O Facebook tem uma inteligência, o chamado ALGORITMO, que seleciona este conteúdo, baseado naqueles tipos de conteúdos que mais curtimos, mais clicamos, aqueles amigos com quem temos mais afinidade e relacionamento na rede e marcas que pagaram para anunciar para alguém com o nosso perfil. A questão é que ninguém de fora do Facebook conhece as regras detalhadas deste algoritmo.
Esta mudança anunciada pelo Facebook já fez algumas empresas de mídia alterarem a sua estratégia de uso da plataforma. Um exemplo é a Folha de São Paulo que anunciou nos últimos dias que não vai mais compartilhar as suas notícias no Facebook através do seu perfil oficial.
O argumento deles é que como o algoritmo da rede passou a privilegiar conteúdos de interação pessoal, em detrimento dos distribuídos por empresas, como as que produzem jornalismo profissional, isso reforçou ainda mais a tendência do usuário a consumir cada vez mais conteúdo com o qual tem afinidade, favorecendo a criação de bolhas de opiniões e convicções.
Além disso, não há garantia de que o leitor que recebe o link com determinada acusação ou ponto de vista terá acesso também a uma posição contraditória a essa. Esses problemas foram agravados nos últimos anos pela distribuição em massa de conteúdo deliberadamente mentiroso, as chamadas "fake news", como aconteceu na eleição presidencial dos EUA em 2016.
E aí está um outro ponto crítico desta crise que o Facebook enfrenta: a dificuldade para filtrar o conteúdo falso que se propaga e se alastra com imensa velocidade na rede.
O Facebook é acusado pela parte mais conservadora dos americanos de ser uma empresa com um viés muito liberal. E é acusado pelos liberais de ter ajudado a eleição de Donald Trump, ao não impedir uma avalanche de perfis e notícias falsas que desequilibraram as eleições.
O dilema que o Facebook vive é que ele se coloca como uma plataforma livre ao mesmo tempo que tem uma espécie de responsabilidade de fazer uma curadoria de conteúdo jornalístico de qualidade. Eles já tentaram contratar equipes de jornalistas, implementaram novos filtros, mas essa decisão de diminuir o conteúdo de notícias na timeline tem sido vista como uma espécie de “jogar a toalha”.
Quem tiver tempo e quiser entender melhor toda essa história, na última semana foi veiculada uma matéria na revista Wired que conta um pouco dos bastidores desse inferno astral que o Face enfrenta.